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PARQUE EDUARDO GUINLE

A vida sobre o jardim

Vitor Silverio, agosto de 2022

O projeto analisado será o Parque Guinle de Lúcio Costa. Uma das obras mais emblemáticas do movimento moderno, o conjunto habitacional apresenta qualidades de planejamento e inserção de tipologias que dialogam com respeito ao local onde está inserido. Para que seja possível cobrir o maior número de pontos possíveis a respeito da concepção do projeto, esta análise será feita em 3 categorias :  

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Contexto inserido

O bloco como produto

A intervenção e o lugar

É interessante explicitar que no projeto de urbanização de Lucio Costa 6 edifícios foram previstos, entretanto apenas 3 foram executados. Posteriormente o escritório MMM Roberto edificou um conjunto habitacional na região que não necessariamente seguia os princípios iniciais do projeto original, dessa forma, para os fins dessa pesquisa apenas os blocos originais da proposta de Costa serão analisados.

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Também por se tratar de uma análise iconográfica todas as imagens, desenhos, animações, perspectivas e maquetes serão de autoria própria com base na obra do autor e de dados georeferenciados do Rio de Janeiro exceto quando se tratarem de documentações históricas acerca do complexo.

1. O valor histórico

A criação do Parque Eduardo Guinle

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Palácio das Laranjeiras

O projeto está implantado no Bairro das Laranjeiras no Rio de Janeiro. Para entender as questões desse projeto é primeiro necessário elucidar as nuances do sítio onde está implantado.

 

O parque foi implantado nos jardim do palacete de Eduardo Guinle, parte da elite financeira carioca, construído em 1913. A área foi comprada pelo governo do Rio de Janeiro em 1940, e posteriormente transformada em um parque urbano devido a grande potencialidade do local na malha urbana e de sua grande fração de solo coberto por vegetação nativa preservada. 

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A área que abriga o projeto é um espaço nobre do Rio de Janeiro, tendo o próprio Palácio das Laranjeiras como um forte indicativo do valor, uma vez que servia como local de recebimento de personalidades da elite carioca . Os jardins inicialmente foram projetados pelo paisagista francês Gérard Cochet e posteriormente se transformou em um dos campos de experimentação modernista, sofrendo intervenções do paisagista Roberto Burle Marx e do arquiteto e urbanista Lúcio Costa através de um plano de urbanização desenvolvido em 1943.

A implantação e o bloco sobre pilotis

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Nova Cintra

(1948)

Bristol

(1950)

Caledônia

(1954)

Croqui do complexo habitacional, adaptado de Costa, 1995

O complexo inicialmente seria estruturado a partir da implantação de 6 blocos habitacionais destinados à elite carioca. Dos 6 blocos previstos para a construção do condomínio apenas 3 foram executados. Na implantação do projeto, Costa se valeu de dois eixos principais para que os edifícios fossem posicionados. O Edifício Nova Cintra foi implantado na cota mais baixa do terreno, paralelo a rua Gago Coutinho que contorna o complexo. Este bloco difere dos demais pela preocupação de diversificação de usos e segundo CANTERGIANI (2019), pelo anseio com uma relação direta com os alinhamentos pré-existentes e com o entorno urbano.

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O projeto faz extenso uso da tipologia dos blocos sobre pilotis, que segundo CANTERGIANI (2019) atua tanto como um elemento formal quanto como um princípio ordenador da implantação que buscava uma nova relação entre os princípios de edificação e cidade, permitindo uma permeabilidade a nível do solo e facilitando a adaptação das edificações a topografia. Dessa maneira, os edifícios Bristol e Caledônia estão alinhados a uma alameda interna ao parque que segue a curva em aclive da topografia.

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Tipologia de blocos sobre pilotis

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Vista superior da implantação do complexo

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Vista frontal da implantação do complexo

As obras do complexo foram concluídas em 1954, entretanto o Residencial Parque Guinle ja havia sido premiado como melhor projeto em 1951 como melhor projeto na categoria residencial. O conjunto foi tombado à nível estadual e municipal desde a década de 1980.

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Propaganda comercial para compra de apartamentos do complexo em 1956

O módulo de habitação 

2. Luz, espaço, conforto e beleza

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Maquete volumétrica do edifício Bristol

Os edifícios são formalmente caracterizados como volumes retangulares que apresentam uma tendência à verticalização, possuindo em torno de 6 e 7 pavimentos sobre pilotis, que possuem função de acomodar a edificação sobre a topografia irregular a partir de sua altura variável. Por seu caráter residencial, o programa interno dos apartamentos segue a lógica tradicional de habitação de alto padrão com variações de tamanho para os apartamentos.

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Corte AA

Térreo

Pavimento tipo 1,3,7

Pavimento tipo 2,4,6

eixo de simetria

modulação

Desenhos técnicos do edifício Nova Cintra, adaptado de Costa (1995)

Os apartamentos podem ser simples ou duplex, sua modulação é determinada por uma barra em quatro módulos não idênticos, dois para cada lado em um eixo de rebatimento centralizado. Nos módulos centrais se localizam os apartamentos duplex enquanto os simples são localizados nas bordas. A circulação vertical é marcada por elevadores e por núcleos de escadas helicoidais desprendidos dos blocos.

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O tratamento da luz solar no projeto se dá pela combinação de quebra-sóis de madeira e elementos cerâmicos vazados, que mitigam a luz proveniente da orientação solar voltada para o sol poente. Ao mesmo passo que que protegem da luz solar e preservam a vista para o parque, esses elementos se tornam um gerador de unidade estética para o projeto, possuindo uma semântica visual única para cada edificação, o que reforça o ideal de identidade do projeto.

Espaço interno dos apartamentos 

A intervenção e o lugar

3. Considerações finais

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Mapa de cheios e vazios

Uma das principais qualidades desse projeto é a relação entre a tipologia e o solo preservado. O bloco sobre pilotis propicia diversos benefícios tanto construtivos quanto de composição, uma vez que permite vencer os desníveis naturais do terreno a partir da variação de altura dos pilares, o que mitiga grandes movimentações de terra  ao mesmo passo que cria uma relação de permeabilidade física e visual dentro do parque.

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Comparativo da relação de tipologias e ocupação do solo.

504 habitantes 

residências unifamiliares

504 habitantes 

blocos sobre pilotis

Outro aspecto importante dessa relação é a questão da densidade e da cobertura do solo, os blocos  apresentam uma tendência a uma verticalidade mais acentuada que traz a dinâmica de habitação coletiva, isso permite que mais pessoas habitem essa região sem que exista a necessidade de construção de novas unidades que ocupariam uma parcela significativa do solo. O adensamento também facilita nas questões de distribuição de infraestrutura urbana e acesso a equipamentos públicos.

Bibliografia

COMAS, C. E. D. Questões de base e situação: arquitetura moderna e edifícios de escritórios, Rio de Janeiro, 1936-45. Arquitextos, nº 078. São Paulo, Portal Vitruvius, nov. 2006. Disponível em Acesso em 31 julho. 2022.

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COSTA, L. Lúcio Costa: registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995.

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COMAS, C. E. D. Lucio Costa e a revolução na arquitetura brasileira 30/39. e lenda(s e) Le Corbusier. Arquitextos, n. 022.01, São Paulo, Portal Vitruvius, 2002. Disponível em . Acesso em 01 agosto. 2022.

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de Brasília

1/2022

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